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Nação comestível
24 de junho / 2020
Nos últimos meses, observar o conteúdo postado nas redes sociais é quase como estar diante da vitrine de uma padaria: se resume, principalmente, em comida. Bolos e pães são as grandes estrelas. É reflexo do tempo que estamos confinados em casa devido a quarentena imposta pelo novo coronavírus. Ao não poder sair para as ruas e encontrar pessoas queridas para um abraço, o tédio, a energia acumulada, a criatividade enclausurada e a carência de afeto presencial tornaram-se ingredientes da cozinha. É a geração dos chefes da quarentena.
“Que nesse momento de não estar fora, na rua, com os outros, a cozinha seja um lugar de encontro precioso com a gente mesmo. Independentemente do que você decidir preparar. O cardápio não importa. O que vale, de verdade, é que tudo isso seja feito com presença, a sua presença”, escreveu Ana Holanda no texto ‘Cozinhar para escutar’ , disponível em sua coluna no site de Vida Simples.
Pensar em comer é pensar, muitas vezes, na história pessoal – almoços de domingos com a mesa farta (de gente e de alimento), receitas passadas de geração para geração, aromas únicos. Mas os ingredientes comuns, que cumprem muito bem a função de nutrir e são base de diversos pratos nacionais, servem também para nos caracterizar enquanto povo.
Recontar a trajetória e os costumes dessas comidas é a proposta da série ‘História da alimentação no Brasil’, disponível na Amazon Prime, e baseada no livro homônimo de Luís da Câmara Cascudo, de 1967.

Ao longo de 13 episódios, sociólogos, pesquisadores, cozinheiros, comerciantes, entre outros, explicam quem somos nós. Intitulada Rainha do Brasil, a farinha de mandioca estrela o primeiro vídeo. Milho, banana e leite de coco também estão entre os produtos retratados. São pratos que matam a fome de muita gente, seja lá qual for a classe social.
No segundo episódio, ‘Verde milho, milho verde’, o sociólogo Carlos Alberto Dória faz um apontamento sobre o milho, mas, ao meu ver, poderia ser utilizado para compreender a força que os alimentos tratados têm. De acordo com ele, a contribuição não se dá no plano do inventário culinário, mas da elaboração da tese nacionalista. Uma nação precisa de uma culinária, assim como de uma literatura. É para construir a ideia de nação comestível.
Assistir aos episódios de vinte e tantos minutos de ‘História da Alimentação no Brasil’ é uma aula de geografia, de história, de sociologia, de arte e de culinária. É uma série sobre trocas, sobre afeto, sobre conexão – com o outro e com a terra.

Nesta quarentena, eu também me tornei um chefe. Minha especialidade são os bolos, daqueles que pedem um cafezinho coado para acompanhar. Nem sempre saem incríveis, é verdade. Mas, ao separar os ingredientes e sentir o perfume que fica no meu lar, me lembro, quase que instantaneamente da minha avó e mãe. Já vale a experiência.
Ao término do segundo episódio, logo após entender a beleza da farinha de milho, uma certeza: essa semana terá bolo de fubá.
Fonte: Vida Simples por Lucas Vasconcellos
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