MZM - Construtora

Leia mulheres: 10 livros para entender, viver e ser mulher

08 de março / 2022

Neste mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, a colunista Rayza Fontes traz para Vida Simples uma seleção com 10 obras fundamentais para entender, viver e ser mulher. 

A Mística Feminina – Betty Friedan

Editora Rosa dos Tempos, 560 páginas

O livro pode não ter envelhecido bem, já que foi escrito em 1963 e aborda apenas mulheres americanas de classe média. Mas, sendo honesta, nada que desqualifique ou diminua a obra. A autora Betty Friedan foi uma vanguardista apenas por dizer o que hoje talvez pareça óbvio: mulheres são seres complexos e que dificilmente serão felizes se restritas aos filhos e maridos. Em suma, ela explorou as possíveis causas e as muitas consequências do chamado “problema sem nome”, basicamente uma inquietação causada pela pressão social de seguir um padrão, a falta de autonomia e uma incapacidade, imposta pela cultura machista, de tomar as próprias decisões.

Coral e outros poemas – Sophia de Mello Breyner Andresen

Companhia das Letras, 392 páginas

Eu nem vou me dar ao trabalho de falar sobre essa portuguesa que amava o Brasil, o mar, a vida… Vou apenas deixar vocês com uma estrofe selecionada quase que aleatoriamente, para provar que ela é uma perfeita tradutora de almas até em momentos de descuido do leitor. Se depois disso a vontade arrebatadora de ler a obra toda não vier, nada que eu disser vai ser capaz de convencer.

“Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.”

A hora da Estrela – Clarice Lispector

Editora Rocco, 88 páginas

Quando alguém poderia pensar em nomear uma protagonista de Macabéa? E dar a ela uma trajetória tão única, com um final apoteótico e, de quebra, ainda obrigar o leitor, já com o cérebro dolorido, a pensar sobre a nossa passagem na Terra e como nem sempre conseguimos enxergar o próximo como um semelhante? Só Clarice Lispector seria capaz. E ela não poderia faltar em uma lista como essa. A fome que Macabéa sentia, no sentido literal e metafórico, ainda hoje me assombram. A curiosidade dela ao ver um mundo novo, muitas vezes cruel, ainda me faz pensar em como a vida é feita de infinitas camadas e nem sempre estamos prontos para a próxima.

A Guerra não tem rosto de mulher – Svetlana Aleksievitch

Editora Companhia das Letras, 392 páginas

O estilo de escrita da ganhadora do Nobel é único, portanto, não admite meio termo. Há quem, como eu, ame de paixão. E ainda, aqueles que não conseguem ultrapassar as primeiras páginas. No caso de “A guerra não tem rosto de mulher”, assim como em “Vozes de Tchernóbil”, talvez sua obra mais conhecida no Brasil, quem fala são os personagens por meio de entrevistas e relatos colhidos pela autora ucraniana ao longo dos anos.

No caso de “A guerra não tem rosto”, o que choca é um fato histórico pouquíssimo conhecido: quase 1 milhão de mulheres russas lutaram na Segunda Guerra Mundial defendendo o Exército Vermelho. A autora então faz uma viagem ao passado e consegue encontrar pessoalmente ou por meio de diários e cartas com as mulheres que estiveram no front. Para nós, sempre vendo apenas uma perspectiva masculina da guerra, ler essa obra é um choque de realidade, assombro e a ter a certeza de que não existem vencedores em uma guerra, seja ela de qualquer natureza.

O Sol é Para Todos – Harper Lee

Editora José Olympio, 349 páginas

Livros narrados por crianças: como não amar? E se a criança é esperta, serelepe, questionadora e irreverente, não tem como evitar querer levar para casa e continuar lendo até o livro acabar. Poucas obras abordam temas como racismo e desigualdade social de forma tão precisa. Não por acaso, é uma obra de leitura obrigatória em quase todas as escolas americanas. Como uma amiga costuma dizer, é um livro que eu gostaria de esquecer, só para ler novamente e ter uma grata surpresa.

A Casa dos Espíritos – Isabel Allende

Editora Bertrand Brasil, 449 páginas

Eis aí um livro para conhecer a história da América Latina por um prisma único: o do realismo fantástico, movimento que nasceu e transbordou por essas bandas para nossa alegria e orgulho. A saga de uma família tradicional é o pano de fundo perfeito para tirar diversos fantasmas do armário e ainda iniciar uma excursão pelos meandros da política chilena e ouso dizer, passando pelas ditaduras militares dos países vizinhos. É um livro sensível, apaixonante e que deixa quem lê para sempre ligado à autora. Uma excelente porta de entrada para um mundo mágico, místico e uma escrita envolvente. Aproveitando o ensejo, já que estamos aqui, dê também uma chance aos livros menos conhecidos de Dona Isabel maravilhosa Allende, como por exemplo “A Ilha sob o mar” e “De amor e de sombra”

As alegrias da maternidade – Buchi Emecheta

Editora Dublinense, 320 páginas

Não se iluda com o título. Alegria nesse livro é mais escassa que um dia de temperaturas amenas no verão brasileiro. E, no entanto, mesmo sofrendo página após página, eu não consigo pensar em nenhuma outra obra para representar uma das autoras nigerianas que mais vem ganhando merecido destaque nos últimos anos. A escrita é fluida, em tom jocoso de amizade, em alguns momentos o reflexo é a vontade de entrar no livro e ajudar, ou ao menos dar um abraço e um bolinho com café para a protagonista Nnu Ego, uma jovem saída de uma tribo e jogada diretamente no fervo de Lagos, a capital do país. E tem marido abusador, vizinha futriqueira, patrão maluco, aborto espontâneo seguido de um medo enorme de “jamais gerar um filho e ser devolvida para a família”. Enfim, elementos e reviravoltas não faltam na trama. Mas o que tocou o meu coração verdadeiramente foi conhecer um pouquinho sobre alguns costumes nigerianos tanto tribais quanto das cidades grandes.

Que livro, meus amigos, que livro! E se depois você quiser continuar ainda tem “Cidade de segunda classe”, “No fundo do poço” e “Preço de noiva” já publicados no Brasil. Eu aviso quando o próximo sair, afinal, fã de carteirinha é assim, vigia até as traduções. Em tempo, por falta de espaço não vou contar em detalhes, mas fora da ficção a vida da autora já é um livro e dos melhores. Musa inspiradora, daquelas que a gente nem encontra adjetivos bons o bastante e diz apenas: “Que mulher!”

Querida Konbini – Sayaka Murata

Editora Estação Liberdade, 152 páginas

Inadequação, apatia, senso prático desconectado de traquejo social, são só algumas pistas de uma protagonista que tinha tudo e mais alguma coisa para ser odiosa, no mínimo. Mas é a ingenuidade de Keiko Furukura que vai justamente conquistar você até a última página e fazer você implorar por mais. Ela encontra a solução para a falta de inteligência emocional trabalhando em uma espécie de loja de conveniência chamada Konbini, criando uma relação quase simbiótica com o lugar. E enquanto a autora habilmente discute as imposições sociais que normalizamos, usando de um humor único e sátiras que vão fazer você repensar se está vivendo ou existindo, a vontade de sair correndo para o Japão e conhecer de perto uma Konbini só cresce.

A Elegância do Ouriço – Muriel Barbery

Editora Companhia das Letras, 352 páginas

Ah, gostaria de começar o texto com um suspiro. Além de ter Paris como pano de fundo, a cidade que guarda um pedacinho da minha alma, o livro é contado pela perspectiva infantil de Paloma, uma pequena notável. A amizade da garotinha com a zeladora Renée está na minha lista de melhores parcerias de todos os tempos. Só peço que leiam o mais rápido possível essa obra-prima. É um livro que reúne o que há de melhor: personagens bem construídas, uma trama envolvente, elementos externos como livros, filmes e músicas que ajudam o leitor a se situar e até mesmo conhecer coisas novas, um debate acalorado sobre os papéis sociais e o sentido da vida. É um livro para todas as idades, gêneros, nacionalidades… O importante é não passar por esse mundo sem ter vivido um pouquinho através de Paloma e Renée.

Esboço – Rachel Cusk

Editora Todavia, 192 páginas (vol I).

Eu achei um tanto perturbador gostar muito de um livro, ou melhor, dessa trilogia composta por Esboço, Trânsito, Mérito e não saber explicar exatamente o motivo. Não é de hoje que a escrita dessa inglesa me incomoda. É genial, ao passo que é também trivial. Decidi aceitar que a beleza e o fascínio das obras dela estão justamente aí: na forma como ela explora o cotidiano e faz de pessoas normais grandes personagens repletos de dramas. Em geral, os livros são curtos e sem muita firula. Até o momento que uma só frase muito bem construída desmonta o pobre leitor e obriga ele a pousar os livros por um segundo enquanto pensa: “eu gostaria de um dia ter escrito isso”. Só para não desanimar quem olha torto para livros com sequência, os três volumes podem ser lidos separadamente e até fora da ordem sugerida. Mas, claro, a experiência completa é infinitamente mais deliciosa. Não te convenci? Tudo bem, a autora tem também “Arlington Park” e “As variações Bradshaw” que seguem o mesmo estilo e não tem nenhum tipo de continuação, uma ótima opção para começar, já que também não são grandes. Mas, não me culpe depois se não conseguir explicar o motivo de querer mais e mais.

Agora é a sua vez

Fiquei curiosa para saber quais livros você, leitor, adicionaria a essa lista.

Escreva nos comentários o nome e compartilhe conosco por que a sua escolha merece ser lida por mais pessoas. Vamos povoar as estantes das pessoas com mais autoras mulheres!

 Por: Revista Vida Simples | Rayza Fontes

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios estão marcados com *

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *